quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Essa casa.



- Eduardo, tá tudo bem com você? - Ela indaga.
- Claro que sim, por que você tá perguntando isso?
- Nada, você só parece mais calado do que o costume.
- Ah, não é nada. Só tava lembrando que tenho que comprar um presente pro aniversário da Carla. Então, continua. Como tá o Rodrigo?
- Então, a gente tem conversado bastante e...
A voz da Mônica parecia esvair-se aos poucos. Acho que algo me afeta quando estou aqui. Não sei ao certo, mas me parece que essa casa está repleta de lembranças que aparecem e me assombram vagarosamente. Sim, tudo mudou. O chão, as paredes, os quartos e até os moradores já não são mais os mesmos, porém todas as experiências e memórias ainda vivem aqui e, somente, aqui. Preciso sair desse lugar. Ainda vejo aquele sofá e ao lado dele a poltrona que servia de descanso para a tirania representante do lar. Todos os meses que passei aqui contra minha vontade me fizeram detestar esse lugar e essas pessoas por muito tempo. Agora venho por vontade própria e, ainda, sinto como se estivesse preso e sendo julgado e observado todo o tempo. Lembro, então, que estava em contato com o objeto que utilizava em momentos escondidos de extremo desespero e aflição. Sim, aquele mesmo objeto que me servia como forma de me contactar com minha idealização de bondade e pureza significava também situações de sofrimento. Minha reação instantânea é de querer afastá-lo de mim e quando estou prestes a fazê-lo, uma voz ressurge e escuto do outro lado da linha:
- Eduardo, tá tudo bem com você? - Ela indaga.
- Claro que sim, por que você tá perguntando isso?
- Nada, você só parece estar mais calado do que o costume.

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