sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Distopia





Quando você pergunta para alguém que gênero literário ou cinematográfico ela gosta e ela responde Ficção Científica (''SCI FI"), o que você pensa sobre ela? Acredito que a maioria das pessoas responderiam: que se trataria de um "nerd"; que imaginaria que ela frequentasse convenções fantasiada daquele "robô" preto (a.k.a. Darth Vader); que seria do tipo que faz aquele sinal estranho com os dedos da mão (gesto de saudação do "Star Trek"); entre outras.

Esse tipo de reação não é nada novo, a "SCI FI" tem sido marginalizada desde suas origens. Quando, finalmente, conseguiu seu espaço na cultura pop norte-americana começou a ser associada a produções de baixo nível ("B-movies"). Somente décadas depois conseguiu se desvincular desse rótulo e começou a ganhar produções e adaptações que fizessem jus as suas obras.

Até hoje esse gênero é vítima de pré-concepções errôneas - como as exemplificadas acima. Ainda é muito comum ouvir: "Ah, não gosto desse tipo de filme. Acho muito viajante assistir 'Star Trek', ou será que é 'Star Wars'? Não importa, mas gosto de coisas mais reais, que tenha mais a ver com a minha realidade." Bem, prefiro nem entrar no mérito da diferença entre "Star Trek'' e "Star Wars", a questão aqui não é essa. No entanto, por favor, cuidado ao falar que Ficção Científica não aborda temáticas atuais e que não tem nenhuma conexão com o que vivemos no presente. Ao fazer isso, você pode estar considerando apenas um sub-gênero derivado da "SCI FI" e ela pode ser dividida em vários deles. Discutiremos apenas um aqui: a Ficção Científica Social.

Não é preciso muito para identificar em uma obra de Ficção Científica os problemas sociais atuais "disfarçados" em uma sociedade futura. Essas obras, geralmente, carregam um tom de aviso aos seus leitores/espectadores e nelas, majoritariamente, consegue-se identificar uma distopia existente .A distopia seria como a anti-utopia e uma característica comum em uma obra distópica é uma sociedade que possui um regime de governo totalitarista ou autoritarista. O cenário carrega sempre uma negatividade em relação a humanidade, geralmente, devido a um certo tipo de abuso cometido por ela.

Autores como Philip K. Dick, H. G. Wells, George Orwell, Aldous Huxley e Ray Bradbury são uns dos mais importantes nomes que fizerem com que o gênero ganhasse aclamação pública e crítica. Todos eles escreveram sobre sociedades futuras, porém visando criticar a sua contemporânea. Se pararmos pra pensar, será que a divisão de classes narrada em "Admirável Mundo Novo" (Huxley, 1932) está realmente tão longe da nossa realidade? E o que dizer a respeito do governo de "Fahrenheit 451" (Bradbury, 1953) e sua preferência pela ignorância de seu povo? Uma analogia pode ser feita, tranquilamente, entre o mundo descrito pelos autores e o nosso. Esses são apenas alguns exemplos de obras literárias que foram, também, adaptadas para o cinema. Porém, há muitas obras que não ganharam adaptações, assim, como também, há filmes que foram feitos a partir de roteiros originais.

É óbvio que preconceito, das mais variadas formas, existe em todo lugar. A intenção aqui não é bancar o hipócrita. Mas sugiro que evite compartilhar opiniões sem possuir nenhuma base sobre aquilo que está falando. E se quiser criticar, tente ler/assistir antes, para que dessa forma, você possa construir argumentos consistentes.


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Essa casa.



- Eduardo, tá tudo bem com você? - Ela indaga.
- Claro que sim, por que você tá perguntando isso?
- Nada, você só parece mais calado do que o costume.
- Ah, não é nada. Só tava lembrando que tenho que comprar um presente pro aniversário da Carla. Então, continua. Como tá o Rodrigo?
- Então, a gente tem conversado bastante e...
A voz da Mônica parecia esvair-se aos poucos. Acho que algo me afeta quando estou aqui. Não sei ao certo, mas me parece que essa casa está repleta de lembranças que aparecem e me assombram vagarosamente. Sim, tudo mudou. O chão, as paredes, os quartos e até os moradores já não são mais os mesmos, porém todas as experiências e memórias ainda vivem aqui e, somente, aqui. Preciso sair desse lugar. Ainda vejo aquele sofá e ao lado dele a poltrona que servia de descanso para a tirania representante do lar. Todos os meses que passei aqui contra minha vontade me fizeram detestar esse lugar e essas pessoas por muito tempo. Agora venho por vontade própria e, ainda, sinto como se estivesse preso e sendo julgado e observado todo o tempo. Lembro, então, que estava em contato com o objeto que utilizava em momentos escondidos de extremo desespero e aflição. Sim, aquele mesmo objeto que me servia como forma de me contactar com minha idealização de bondade e pureza significava também situações de sofrimento. Minha reação instantânea é de querer afastá-lo de mim e quando estou prestes a fazê-lo, uma voz ressurge e escuto do outro lado da linha:
- Eduardo, tá tudo bem com você? - Ela indaga.
- Claro que sim, por que você tá perguntando isso?
- Nada, você só parece estar mais calado do que o costume.