sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Melhor Amiga

Clara - Alô.

Luana - Amiga! Sou eu, como você tá?

Clara - Lú! Tá tudo bem, querida. E com você?

Luana - Tudo indo, Clarinha. Você sabe, né, gata? Meio do semestre chega e o tempo aperta.

Clara - Ai, nem me fala. Tô naquela velha correria do semestre também, sem tempo pra muita coisa, além do trampo e da facul. Mas na verdade, amiga, liguei porque queria conversar sobre outra coisa.

Luana - Nossa, é algo sério? Me conta.

Clara - Ai, amiga. Você lembra que eu te falei que o Henrique ainda mantém contanto com a ex dele, a Isabel?

Luana - Sim, você já me falou isso, mas ele te traiu com ela, amiga?!

Clara - Credo, não. Não saberia nem qual seria meu estado agora se isso tivesse acontecido!

Luana - E o que aconteceu?

Clara - Aconteceu que de uma hora pra outra eles voltaram a ser amigos de saída. Depois da aula agora é de praxe eles saírem com a turma da facul pra tomar um chopp, por exemplo. No início tentei não me importar, mas agora não consigo, amiga. A gente anda brigando muito por causa dela.

Luana - Ah, gata. Isso é tão típico dos homens. Justificar para as namoradas que uma amizade muito próxima com uma outra mulher é normal. Você lembra do que aconteceu comigo e com o Roberto, não é? Primeiro ele começou com umas saidinhas com o pessoal do trabalho e sempre quando eu perguntava quem estava no "bando" o nome da infeliz sempre surgia despretensiosamente no meio de outros nomes, supostamente confiáveis. Isso quando ele era mencionado.

Clara - Ai, amiga, o que eu faço? Acho que estou ficando neurótica. Não consigo pensar em outra coisa.

Luana - Eu sei o que é isso. Você ainda não começou a querer seguí-lo? Eu fiquei assim, era uma tortura. Mas você tem que ficar sempre atenta, foi o que eu fiz. O Roberto nunca admitiu, mas tenho certeza que aconteceu algo entre ele e "aquelazinha". Eu mereço mais do esses namorados que não me dão atenção e preferem sair com os amigos e amigas do que comigo.

Clara - Mas, aí é que tá. A gente tem feito as mesmas coisas. Saímos juntos como antes. Só que agora quando ele sai e eu não estou com ele penso que ele está com ela.

Luana - E ele pode estar. Se você continuar desconfiando, faça como eu, confronte-o. Eu me senti bem melhor quando fiz isso.

Clara - Mas eu já fiz isso. Só que não quero parecer a louca que toca sempre no mesmo assunto e que não acredita no que o namorado diz.

Luana - Ai, amiga nossa história é muito parecida. Clarinha, eu acho que você vai ter que fazer o que eu fiz, terminar o namoro. Foi a melhor decisão que podia ter tomado.

Clara - Ai, amiga. Eu não sei se eu consigo. Eu o amo tanto.

Luana - Ah, mas eu amava o Roberto também. Eu lembro como eu estava apaixonada por ele. Mas se ele não está sendo fiél com você, não vale a pena. Acredite em mim, eu já passei por isso.

Clara - Mas é um ano e meio de namoro. Vivemos muita coisa juntos. Você não acha que eu devia dar uma chance para ele e confiar mais no que ele diz?

Luana - Olha, Clara. Se você confiar demais nele, você vai acabar se decepcionando quando ele aprontar alguma com você. Fique de olho abeto pra você não sofrer depois. É assim que eu ajo e tenho me virado bem até agora. Confia em mim, eu só quero seu bem.

Clara - Ai, amiga, vou pensar no que você tá dizendo. Obrigada por escutar os meus problemas.

Luana - Me liga quando precisar. Às Vezes, é bom ver as coisas por uma outra perspectiva. Ainda mais se for de uma pessoa que está desejando o melhor pra você.

Clara - Obrigada, Lú. Depois a gente marca uma saída com todo mundo.

Luana - Claro. Beijão, amiga.

Clara - Beijo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Elixir



Eu vou vestir os seus olhos,

Para uma análise mais clara,

Para que exergue tudo melhor.

Vista os meus olhos

E escute a música das nossas peles,

A melodia causada por essa colisão

E a harmonia das nossas pulsações,

Que nos dizem o que as palavras não o fazem.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Paixão

"E o meu objetivo na minha vida é fazer pinturas e desenhos, tantos e tão bons quanto eu puder; então, no fim da minha vida, eu espero falecer, olhando para trás com amor e um terno arrependimento, e pensar: 'Ahh, as pinturas que eu poderia ter feito.'" (Van Gogh)

É reconfortante quando encontramos nossa paixão na vida e temos a oportunidade de usá-la como fonte diária de inspiração para nossos trabalhos. As palavras acima (livremente traduzidas por quem vos fala) ditas pelo famoso pintor mostram claramente como é sentir-se totalmente apaixonado pelo que você faz e o desejo que te domina de querer sempre aperfeiçoar-se nessa função.

No filme "Adaptação" (Spike Jonze, 2002) a personagem Susan Orlean (interpretada pela atriz Meryl Streep) precisa escrever uma matéria sobre um colecionador de orquídeas, John Laroche (Chris Cooper), para tal ela resolve passar alguns dias convivendo com ele e, dessa forma, conhecer sua rotina. Rapidamente Susan percebe que John seria capaz de tudo - arriscar sua vida, ser preso etc - para encontrar e cultivar orquídeas. Ela parece não compreender como John consegue abrir mão de tantas coisas em sua vida devido a meras flores. Em um trecho do filme ela diz: "I want to know what it feels like to care about something passionately." ("Eu quero saber como é se importar com algo apaixonadamente")

Creio que todos nós procuramos um interesse maior, assim como Van Gogh e como John Laroche, algo que nos estimula a sempre buscar mais a ponto de nos fazer parecer seres insaciáveis. São essas paixões que nos impedem de sentir um vazio em nossas vidas, o mesmo sentido por Susan no filme citado acima. Alguns conseguem encontrar essa paixão cedo, outros nem tanto. Ainda assim, penso que é necessário tê-la.

No entanto, além dos nossos interesses maiores acredito que devemos ter também interesses coadjuvantes. Eles são extremamente importantes em nossas vidas, pois são eles que mantém o equilíbrio entre paixão e obsessão pelo que fazemos. Por isso não considero nada anormal quando vejo um contador que também possui uma banda na qual toca algumas noites ou quando conheço um jornalista que é guia de trilhas durante os finais de semana.

No final das contas você sempre sabe qual é sua prioridade e em suposto caso de uma forçada escolha entre um ou outro, você não tem dúvidas de qual escolher - salvo casos em que o financeiro precisa ser considerado.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Distopia





Quando você pergunta para alguém que gênero literário ou cinematográfico ela gosta e ela responde Ficção Científica (''SCI FI"), o que você pensa sobre ela? Acredito que a maioria das pessoas responderiam: que se trataria de um "nerd"; que imaginaria que ela frequentasse convenções fantasiada daquele "robô" preto (a.k.a. Darth Vader); que seria do tipo que faz aquele sinal estranho com os dedos da mão (gesto de saudação do "Star Trek"); entre outras.

Esse tipo de reação não é nada novo, a "SCI FI" tem sido marginalizada desde suas origens. Quando, finalmente, conseguiu seu espaço na cultura pop norte-americana começou a ser associada a produções de baixo nível ("B-movies"). Somente décadas depois conseguiu se desvincular desse rótulo e começou a ganhar produções e adaptações que fizessem jus as suas obras.

Até hoje esse gênero é vítima de pré-concepções errôneas - como as exemplificadas acima. Ainda é muito comum ouvir: "Ah, não gosto desse tipo de filme. Acho muito viajante assistir 'Star Trek', ou será que é 'Star Wars'? Não importa, mas gosto de coisas mais reais, que tenha mais a ver com a minha realidade." Bem, prefiro nem entrar no mérito da diferença entre "Star Trek'' e "Star Wars", a questão aqui não é essa. No entanto, por favor, cuidado ao falar que Ficção Científica não aborda temáticas atuais e que não tem nenhuma conexão com o que vivemos no presente. Ao fazer isso, você pode estar considerando apenas um sub-gênero derivado da "SCI FI" e ela pode ser dividida em vários deles. Discutiremos apenas um aqui: a Ficção Científica Social.

Não é preciso muito para identificar em uma obra de Ficção Científica os problemas sociais atuais "disfarçados" em uma sociedade futura. Essas obras, geralmente, carregam um tom de aviso aos seus leitores/espectadores e nelas, majoritariamente, consegue-se identificar uma distopia existente .A distopia seria como a anti-utopia e uma característica comum em uma obra distópica é uma sociedade que possui um regime de governo totalitarista ou autoritarista. O cenário carrega sempre uma negatividade em relação a humanidade, geralmente, devido a um certo tipo de abuso cometido por ela.

Autores como Philip K. Dick, H. G. Wells, George Orwell, Aldous Huxley e Ray Bradbury são uns dos mais importantes nomes que fizerem com que o gênero ganhasse aclamação pública e crítica. Todos eles escreveram sobre sociedades futuras, porém visando criticar a sua contemporânea. Se pararmos pra pensar, será que a divisão de classes narrada em "Admirável Mundo Novo" (Huxley, 1932) está realmente tão longe da nossa realidade? E o que dizer a respeito do governo de "Fahrenheit 451" (Bradbury, 1953) e sua preferência pela ignorância de seu povo? Uma analogia pode ser feita, tranquilamente, entre o mundo descrito pelos autores e o nosso. Esses são apenas alguns exemplos de obras literárias que foram, também, adaptadas para o cinema. Porém, há muitas obras que não ganharam adaptações, assim, como também, há filmes que foram feitos a partir de roteiros originais.

É óbvio que preconceito, das mais variadas formas, existe em todo lugar. A intenção aqui não é bancar o hipócrita. Mas sugiro que evite compartilhar opiniões sem possuir nenhuma base sobre aquilo que está falando. E se quiser criticar, tente ler/assistir antes, para que dessa forma, você possa construir argumentos consistentes.


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Essa casa.



- Eduardo, tá tudo bem com você? - Ela indaga.
- Claro que sim, por que você tá perguntando isso?
- Nada, você só parece mais calado do que o costume.
- Ah, não é nada. Só tava lembrando que tenho que comprar um presente pro aniversário da Carla. Então, continua. Como tá o Rodrigo?
- Então, a gente tem conversado bastante e...
A voz da Mônica parecia esvair-se aos poucos. Acho que algo me afeta quando estou aqui. Não sei ao certo, mas me parece que essa casa está repleta de lembranças que aparecem e me assombram vagarosamente. Sim, tudo mudou. O chão, as paredes, os quartos e até os moradores já não são mais os mesmos, porém todas as experiências e memórias ainda vivem aqui e, somente, aqui. Preciso sair desse lugar. Ainda vejo aquele sofá e ao lado dele a poltrona que servia de descanso para a tirania representante do lar. Todos os meses que passei aqui contra minha vontade me fizeram detestar esse lugar e essas pessoas por muito tempo. Agora venho por vontade própria e, ainda, sinto como se estivesse preso e sendo julgado e observado todo o tempo. Lembro, então, que estava em contato com o objeto que utilizava em momentos escondidos de extremo desespero e aflição. Sim, aquele mesmo objeto que me servia como forma de me contactar com minha idealização de bondade e pureza significava também situações de sofrimento. Minha reação instantânea é de querer afastá-lo de mim e quando estou prestes a fazê-lo, uma voz ressurge e escuto do outro lado da linha:
- Eduardo, tá tudo bem com você? - Ela indaga.
- Claro que sim, por que você tá perguntando isso?
- Nada, você só parece estar mais calado do que o costume.

domingo, 8 de agosto de 2010

Segunda Chance.

"Deixa ele, ele é muito novo. Não tem idade pra distinguir essas coisas ainda." Um certo alívio pareceu manifestar-se em mim ao escutar essas palavras. "Agora eu sei que vai ser diferente", pensei. "Talvez o que ele realmente precisava era de uma segunda chance." Embora, eu sempre acreditei que quem quer mesmo acertar tenta ao máximo de primeira, eu consegui enxergar nobreza naquele ato. No entanto, em poucos segundos um pensamento me veio à cabeça. "Mas, pela lógica, essa não seria sua quarta chance?". De fato, ele teve longos anos de tentativas fracassadas de redenção e justamente agora ele consegue o esperado êxito? De repente, todos os gestos de carinho e atenção significavam uma afronta para mim. Eu também tinha o direito de ter vivido esses momentos. Essas poderiam ter sido minhas experiências. Pensei se todas as marcas existentes em mim ainda existiriam se essas fossem minhas memórias. Eu seria a mesma pessoa? "Isso não vai levar a lugar nenhum", retruquei em voz alta. Esse foi a minha maior manifestação de egoísmo. "Esse não é o meu momento, isso não é sobre mim.", reforcei. Naquele instante, o peguei no colo e visualizei todas as boas possibilidades que o aguardavam. Desejei que, de fato, tudo fosse diferente para ele e que aquelas marcas não vissem sequer a sua sombra.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Pra quem quiser entender...

Cara 1: Diz aí, velho! Beleza?
Cara 2: Tranquilo. E com você?
Cara 1: Tudo indo.
Cara 2: Pois é, cara. Eu tava andando pela quadra essa semana e vi algo muito tosco.
Cara 1: O que, cara?
Cara 2: Eu te vi velho, jogando futebol lá...com aquela galera. Quer dizer, eu não achei que fosse você. Mas o pessoal tava comigo e confirmou. Ninguém entendeu nada!
Cara 1: Peraí...eu que não tô entendendo nada! Qual é o problema se eu joguei futebol?
Cara 2: A gente nunca viu você jogar futebol! Há anos que eu te conheço e você só joga basquete! Tudo bem, a gente sabe que você já jogou há muito tempo. Mas por que voltar, agora?
Cara 1: Cara, não sei. Deu vontade. Não vi mal nenhum. E eu curti ter jogado.
Cara 2: Isso quer dizer que você não vai mais jogar basquete?
Cara 1: Claro que não! Eu sei que basquete é o meu jogo e que vou jogá-lo pra sempre. Só que naquele momento eu quis jogar futebol, meu!
Cara 2: Você não tem noção do que a galera tá falando de você por causa disso.
Cara 1: O que, por exemplo?
Cara 2: Que você é um traira, que só tá fazendo isso pela imagem.
Cara 1: Imagem? Imagem de que? Pra quem? Pra quem já sabe que eu curto basquete?!
Cara 2: Não sei, cara. A galera achou estranho. Não sei se as coisas serão como antes.
Cara 1: Engraçado, então somos amigos só porque eu curto basquete? Vocês não tão ligados que ao fazerem isso vocês se igualam aos outros que nós mesmos criticamos por não aceitarem quem joga basquete?
Cara 2: Você tá me igualando à eles, cara?! Nada a ver! Isso é vacilo. Eu acho melhor eu ir nessa.
Cara 1: Eu também!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Our dreams will break the boundaries of our fears

Acho que todos já sabem que eu sou fã do The Killers, mas precisava postar aqui sobre o primeiro single do àlbum solo do Brandon Flowers (vocalista da banda).

Quem nunca escutou aqui vai o vídeo da música com a letra e o link com a tradução, respectivamente:

Música e Letra



Link com Tradução


Não teve muito como o Brandon fugir. Achei a atmosfera da música bem à la The Killers, ou seja, curti!

Queria mesmo falar sobre o clipe. Achei muito bem produzido e cheio de analogias sutis.

Na primeira cena vemos um close do Flowers cabisbaixo e ferido. A cena abre e podemos ver que ele está desolado. De repente, uma explosão. Uma mulher chega (a Charlize Theron) e luta com os sequestradores do Brandon e os derrota. O olhar entre um e o outro é intenso. E ao término da luta ele sorri para ela.

Esse estilo de cena se repete mais duas vezes. Sempre com o vocalista sofrendo e sendo torturado e sua "musa" vindo ao seu resgate. E, à princípio, o que pode parecer repetitivo e sem propósito, quando analisado faz total sentido.

Não poderia ela ser analisada como aquela que o salva dos piores momentos da vida dele? Aquela que afasta seus demônios (tell the devil that he can go back from where he came) e que quebra os limites dos seus medos (our dreams will break the boundaries of our fears).

Alguns podem considerar o clipe até um chavão. Afinal de contas, ver mulheres em papéis fortes já não é mais novidade. Ainda assim, gostei muito da inversão de papéis que há nele. A mulher como sendo a forte do relacionamento e o homem como o vulnerável. Isso é claro até na cena final, com ela dirigindo e o abraçando, como se quisesse assegurá-lo de algo, fazendo o pedido dele de deitar-se ao seu lado (lay your body down next to mine).

Bem, pra quem já viu e curte ou pra quem não viu ainda, aí está o clipe:

Inspiração



Deixei o blog abandonado, eu sei. Estava pensando nos motivos para ter feito isso. Ponsei em vários: falta de tempo; excesso de atividades; prioridades; desinteresse; entre outros. Mas em algum momento disse para mim mesmo que o que faltava era inspiração. Aquilo que todo metido a escritor gosta de dizer quando está sem escrever.

Entretando, acredito que há sempre inspiração em qualquer indivíduo. Umas apenas são melhores que as outras ou mais claras que as outras. Afinal de contas, todos pensamos e temos ideias, não é? Ideias essas que vieram à minha cabeça, mas quando raramente as obedecia deixava-as transformar apenas em meros esboços. Sem tratá-las com o digno respeito de desenvolvê-las em algo maior e, talvez, de deixá-las tomar o potencial que à princípio elas aparentavam tomar.

Então, talvez o fato de não ter seguido minhas inspirações esteja diretamente ligado aos motivos, de ter largado a escrita, inicialmente especulados aqui. Afinal de contas, uma série de eventos pode mudar sua maneira de (re)agir à determinados acontecimentos.

Agora, com mais tempo livre, voltarei ao hábito da escrita. Alguns voltados para esse blog, outros para projetos que precisam ser iniciados ou finalizados, e alguns outros pessoais.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Experiências Idílicas



Há experiências em minha vida que causam um impacto tão avassalador que me faz duvidar da veracidade de sua existência. Ocasionalmente, ao tentar relembrar certos acontecimentos do passado consigo visualizar alguns flashes de memórias que passam tão rápido e sem nitidez que me faz oscilar entre acreditar que foi um sonho muito real ou que foi um autêntico episódio idílico. Para as mentes maldosas, estou me referindo a experiências vividas sobriamente, sem o auxílio de álcool ou qualquer outra droga.

Resgatando algumas dessas memórias percebo que há uma relação direta entre a intensidade das emoções que vivi naquele momento e a sensação de fantasia que associo com ele. É como se toda a euforia que eu sentisse dominasse o meu ser e, durante aquele determinado instante, eu fosse apenas um mísero hospedeiro dos sentimentos, incapaz de pensar e agir com racionalidade.

Ao término da experiência que incita tal estado, o período eufórico cessa e, portanto, o declínio do idílico acontece bruscamente. Uma vez que o imaginário é quebrado, é permitido, dessa forma, o retorno do “real”. A partir de então, sou capaz de voltar a agir racionalmente e harmonizar as emoções que estou sentindo. Consequentemente, se torna mais fácil lembrar o que aconteceu e como me encontrava após o evento causador do que durante ele.

Um bom exemplo disso aconteceu em novembro de 2009 quando fui ao show do The Killers. Recentemente, ao escutar algumas músicas que fizeram parte do setlist dessa tour tentei recordar alguns momentos do show. Enquanto o fazia notei que minha percepção do evento estava totalmente comprometida. De fato, por um segundo tive a sensação de que não estava lá e de que havia sonhado tudo aquilo. Nem sequer as fotos e os vídeos alteram esse feeling.

O que permanece é a estranheza e a imprecisão com relação a algumas das minhas próprias memórias. E a pergunta jaz: será que deixar a euforia me dominar e viver determinados momentos intensamente prejudica minha percepção do real?




Descontrole total na abertura do show do The Killers.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O âmago do ser



É irrefutável afirmar que bons títulos de gêneros como comédia, aventura, musical e afins elevam nossos espíritos e nos fazem oscilar entre momentos de gargalhadas eufóricas e reflexões proeminentes. Quem nunca se deleitou assistindo uma boa peça de comédia? A "Megera Domada" (Shakespeare), "Pigmalião" (Bernard Shaw) entre outros estão aí para provar a relevância desse gênero. Quem se propõe a questionar o mérito alcançado por "Os Exêntricos Tenenbaums" (Wes Anderson) e a profundidade psicológica que o filme atinge?

Entretanto, podemos afirmar que um bom drama nos provoca reações tão marcantes quanto uma boa comédia o faz? De fato, poderíamos afirmar que o diretor Wes Anderson conseguiu os resultados positivos mencionados por, justamente, oscilar entre a comédia e o drama. É evidente durante o filme como a linha entre um e o outro é tênue.

Se levarmos em conta o que foi dito por Aristóteles, lembraríamos que a tragédia nos permite experienciar algo que a comédia não oferece: a catarse. Ela seria as fortes emoções provocadas ao término de uma peça - hoje podemos aplicá-la também à livros, filmes, seriados, música entre outros. Segundo o filósofo essa seria uma experiência de purificação, uma vez que, os sentimentos de medo e pena (que podem ser associados com outros, como a angústia e a tristeza) que alguns homens sentem em excesso e outros em escassez são, então, equilibrados.

Consequentemente, para a percepção e purgação de tais emoções, supomos que um certo nível de complexidade seja atingido pela obra que os causa. E até onde pode uma comédia explorar o complexo da natureza humana sem se tornar austero demais para o estilo? Possivelmente por isso a catarse pareça ser mais adequada para o drama do que para a comédia.

Indubitavelmente esse é um tópico provocante para uma discussão. Porém, isso é um mero blog. A nível de exercício de reflexão termino incitando alguns questionamentos.
Escolhi alguns filmes contemporâneos que considero bem-sucedidos em seus gêneros e proponho: comparem o que vocês sentiram ao término deles.





Todos eles terminam de maneira reflexiva e nos estimulam a avaliar nossas vidas ou a vida de pessoas que conhecemos ao passo que causa emoções diversas em nosso íntimo. Contudo, eles o fizeram sentir determinados sentimentos com a mesma intensidade?

sexta-feira, 26 de março de 2010

Gênio

Quando tive contato com o trabalho de William Blake na universidade, não tinha noção do grande autor que estava conhecendo. Lembro que o primeiro poema que li de sua autoria foi The Sick Rose (A Rosa Doente). Um poema super curto, porém intensamente tocante.



The Sick Rose


O Rose thou art sick.
The invisible worm,
That flies in the night
In the howling storm:

Has found out thy bed
Of crimson joy:
And his dark secret love
Does thy life destroy.

A Rosa Doente
Ó Rosa, estás doente.
O verme que vadia,
Invisível na noite
De uivante ventania:

Achou teu leito feito
De prazer carmesim:
Seu negro amor secreto
Dedica-se ao teu fim.


Nenhuma tradução consegue ter o mesmo efeito do texto original, mas de algumas versões que já vi, achei essa a melhor. Ao fazer a analogia de uma rosa com o amor, Blake insinua que assim como a rose o amor também está doente. No entanto, nenhum dos dois estão cientes dessa doença. Com esse poema pequeno e poderoso o poeta chamou minha atenção. Foi quando resolvi procurar mais sobre ele. Atualmente, ele é considerado um dos grandes nomes da literatura mundial. Porém, ele nem sempre foi visto assim. Ignorado pela maioria dos seus contemporâneos, o autor foi considerado louco por muitos.

Ao comprar seu livro The Marriage Of Heaven and Hell pude perceber a razão de toda essa rejeição. A maioria dos seus textos são fantasias e criações de um mundo particular de Blake. Ele não somente criou uma doutrina pessoal, como também, seu próprio universo e, de fato, inovou o cenário de sua época ao ilustrar seus próprios textos e criar pinturas com imagens que vinham desse seu mundo. Até então (século XVIII), artistas não passavam para os quadros suas visões privadas. No entanto, ele quebrou os padrões, pois além de artista era também um poeta.




Essa pintura chamada Ancient Of Days demonstra um pouco da visão do pintor. A figura do senhor é vista como Deus, porém esse é um deus próprio de Blake. O plano de fundo conota as trevas e ao redor do ancião percebermos algo parecido como fogo, dessa forma, interpreto a sua visão de um deus obscuro. Se observarmos bem as luzes que ele transmite para baixo parecem com trovões o que pode denotar, também, terror. Claro que minha interpretação dessa pintura - assim como também de sua poesia - está suscetível a discussões. Nunca saberemos de fato a intenção de um artista/escritor ao efetuar uma obra a não ser que ele a tenha dito.


Ao adquirir sua coleção de poemas intitulada Songs Of Innocence and Of Experience (Canções da Inocência e da Experiência) vi a importância social do seu trabalho. Na primeira parte do livro, como o próprio nome sugere, os poemas possuem um tom ingênuo e às vezes soam até como uma canção infantil. Já na segunda metade a sensação é de amadurecimento. O eu-lírico começa a indagar mais e questionar o por quê de certas coisas. Suas críticas iam além do cunho social e atingiam também o espiritual. Um dos seus poemas mais fortes e mais questionadores, na minha opinião, é The Tyger (O Tigre).

The Tyger
Tyger Tyger, burning bright,
In the forests of the night;
What immortal hand or eye,
Could frame thy fearful symmetry?

In what distant deeps or skies.
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand, dare seize the fire?

And what shoulder, & what art,
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand? & what dread feet?
What the hammer? what the chain,
In what furnace was thy brain?
What the anvil? what dread grasp,
Dare its deadly terrors clasp!

When the stars threw down their spears
And water’d heaven with their tears:
Did he smile his work to see?
Did he who made the Lamb make thee?
Tyger Tyger burning bright,
In the forests of the night:
hat immortal hand or eye,
Dare frame thy fearful symmetry?



O Tigre

Tigre, tigre que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria?

Em que longínquo abismo, em que remotos céus
Ardeu o fogo de teus olhos?
Sobre que asas se atreveu a ascender?
Que mão teve a ousadia de capturá-lo?

Que espada, que astúcia foi capaz de urdir
As fibras do teu coração ?
E quando teu coração começou a bater,
Que mão, que espantosos pés
Puderam arrancar-te da profunda caverna,
Para trazer-te aqui?

Que martelo te forjou? Que cadeia?
Que bigorna te bateu? Que poderosa mordaça
Pôde conter teus pavorosos terrores?
Quando os astros lançaram os seus dardos,
E regaram de lágrimas os céus,
Sorriu Ele ao ver sua criação?
Quem deu vida ao cordeiro também te criou?

Tigre, tigre, que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão, que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria?


Lido logo após The Lamb (Cordeiro) ele parece ter um efeito ainda maior. Ao se perguntar sobre a criação do tigre Blake consegue com maestria fazer com que o leitor questione a bondade do criador que o moldou - já que o poema sugere que o animal não foi concebido. Por quê o mesmo deus que fez uma criatura tão bela e pura como o cordeiro criaria também um ser tão perverso e traiçoeiro como o tigre? Se em The Lamb o eu-lírico faz essa indagação à respeito da criação e do criador somente para responder no final, em The Tyger ele não o ousa fazer. Isso é um sinal da maturidade que o eu-lírico adquire. Blake parece, então, revelar em seus poemas a transição que passou em sua vida

O cinema também fez referência à William Blake. Em The Dangerous Lives Of Altar Boys [2002] (Meninos de Deus) vemos Kieran Culkin representando um adolescente, Tim, que devido ao descaso dos seus pais precisa crescer precocemente. Ele e seus amigo, Francis, (Emile Hirsch) estudam em uma escola católica e, portanto, são repreendidos constantemente. Obviamente, William Blake é um dos seus autores/pintores favoritos devido ao seu caráter rebelde e transgressor. Em uma das cenas finais do filme vemos o personagem de Hirsch passar por algo que o faz amadurecer forçadamente. Essa transição é simbolizada enquanto o personagem lê o poema The Tyger.


Emile Hirsch e Jena Malone - a atriz que sempre se destacou em papéis de garotas problemáticas achou o papel ideal nesse filme.

Bem, aqui fica minha dica. Quem quiser conhecer mais sobre o cara faça um bom uso do google!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Primeiro curta.

Como alguns sabem comecei a cursar Cinema na UNP em fevereiro. Vejam abaixo o trailer do curso dirigido e roteirizado pelo professor Fábio DeSilva, nooso coordenador.







A nossa turma - que é a primeira desse curso no RN! - já começou fazendo um curta. A disciplina foi Introdução à Educação Superior e a proposta do trabalho era analisar as Diretrizes Curricales, o PPI e o PPC.

Cada um ajudou no que podia e esse foi o resultado final. Parabéns a Johann pela puta edição e efeitos!



domingo, 21 de março de 2010

A bola da vez...


A bola da vez está com o Tim Burton. O cara acabou de lançar Alice in Wonderland em 3D. Por sinal, poucos países ainda não estrearam. Estou puto porque Brasil está sendo um dos últimos países a lançar o filme! (Chequem a lista com as datas de estréia no link http://www.imdb.com/title/tt1014759/releaseinfo)


O próximo projeto do diretor será uma animação (também em 3D!) da Família Adams. Veja notícia:

http://revistamonet.com.br/coluna/2010/03/18/animacao-em-3d-de-a-familia-adams-sera-feita-por-tim-burton/


Pessoalmente achei tudo a ver. Todo o clima bizarro, todos os figurinos toscos e todas as situações tragicômicas que a Família Adams insinua carregam traços marcantes de Burton. A idéia de ser animação a princípio me fez pensar se seria tão legal quanto os filmes do início da década de 90. Jamais desmerecendo as animações de Burton, o cara consegue se manter fiél a todas suas características singulares em todas as animações que faz, porém a idéia de ver algumas carinhas conhecidas nos papéis estranhos que o Burton constrói inicialmente me pareceu ser mais interessante. Contudo, pensando melhor, percebi que seria difícil desvincular certas imagens dos personagens da Família Adams. Quem ao falar da Família Adams não faz associações diretas com Angelica Huston, Raul Julia, Christopher Lloyd e Christina Ricci - com seu olhar vazio e marcante.






















Bem, se ainda estamos esperando por Alice a espera por esse próximo projeto desse peculiar diretor será ainda mais longa!

terça-feira, 9 de março de 2010

Início...

Depois de tanto pensar, repensar e até relutar resolvi fazer um blog. Superado o receio de ser apenas mais um blogger, resolvi encarar que é o que, de fato, serei (rsrs). Mas, por que não? Acho que todos fazem por motivos pessoais e que talvez nem sequer nos damos conta de quais sejam.

Sendo fiél à idéia inicial - falar sobre viagens, porém não vou me restringir somente à esse assunto - resolvi fazer uma referência a um grande filme no título do blog. Ah, não posso esquecer. Filme vai ser algo que falarei e muuuuito aqui! Haha. Não tem como fugir.

Tentarei postar com frequência, no entanto, a minha rotina louca as vezes não permitirá!

Fiquem por perto! =p