domingo, 8 de agosto de 2010

Segunda Chance.

"Deixa ele, ele é muito novo. Não tem idade pra distinguir essas coisas ainda." Um certo alívio pareceu manifestar-se em mim ao escutar essas palavras. "Agora eu sei que vai ser diferente", pensei. "Talvez o que ele realmente precisava era de uma segunda chance." Embora, eu sempre acreditei que quem quer mesmo acertar tenta ao máximo de primeira, eu consegui enxergar nobreza naquele ato. No entanto, em poucos segundos um pensamento me veio à cabeça. "Mas, pela lógica, essa não seria sua quarta chance?". De fato, ele teve longos anos de tentativas fracassadas de redenção e justamente agora ele consegue o esperado êxito? De repente, todos os gestos de carinho e atenção significavam uma afronta para mim. Eu também tinha o direito de ter vivido esses momentos. Essas poderiam ter sido minhas experiências. Pensei se todas as marcas existentes em mim ainda existiriam se essas fossem minhas memórias. Eu seria a mesma pessoa? "Isso não vai levar a lugar nenhum", retruquei em voz alta. Esse foi a minha maior manifestação de egoísmo. "Esse não é o meu momento, isso não é sobre mim.", reforcei. Naquele instante, o peguei no colo e visualizei todas as boas possibilidades que o aguardavam. Desejei que, de fato, tudo fosse diferente para ele e que aquelas marcas não vissem sequer a sua sombra.